Hospitalização por Covid-19 é 34% menor em pessoas fisicamente ativas
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Hospitalização por Covid-19 é 34% menor em pessoas fisicamente ativas

Estudo recente é mais um reforço de que manter-se fisicamente ativo pode melhorar resposta do organismo em casos de doenças, incluindo melhores chances de enfrentamento da Covid-19

Um estudo brasileiro apontou que a prática de atividades físicas pode reduzir em 34,3% a prevalência de hospitalizações por Covid-19, desde que essas atividades sejam feitas em intensidade suficiente. Para chegar a esse número, foi realizada uma pesquisa online entre os meses de junho e agosto com pacientes curados do coronavírus. O questionário incluía questões sobre cofatores, como idade, sexo, presença de comorbidades e peso e altura para cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC).

Foram coletadas informações de 938 indivíduos de ambos os sexos, diferentes idades e estados do país, dos quais 91 (9,7%) foram internados. Para os indivíduos que praticavam exercícios físicos de maneira suficiente, foi observada uma redução de 34,3% da prevalência de hospitalização pela Covid-19. Por outro lado, para aqueles indivíduos acima de 65 anos ou com doenças preexistentes, incluindo sobrepeso ou obesidade, foi observado maior prevalência de hospitalizações. Além disso, homens também foram mais internados, segundo o estudo. Entre eles, esse percentual foi de 66%, e no caso dos idosos, esses indivíduos acabavam internados até sete vezes mais.

Para entendermos melhor os resultados do estudo conduzido por um grupo de profissionais de Educação Física de diferentes estados do Brasil, conversamos com um dos autores, o Prof. Dr. Francis Ribeiro de Souza [CREF 079764-G/SP].

Revista Educação Física - Quais foram as motivações para realização do estudo? 
Francis Ribeiro de Souza
- Como profissionais de Educação Física e pesquisadores científicos, sabemos da importância da prática de atividades físicas na população e o impacto dela na saúde. Por isso, sentimos a necessidade de colaborar de alguma maneira com o nosso conhecimento frente à atual pandemia. Sabe-se que o exercício físico promove melhor resposta do nosso sistema imunológico e as defesas do organismo frente à invasão de algum vírus. Por isso, nós tínhamos criado a hipótese que pessoas fisicamente ativas poderiam ter maior proteção também contra o novo coronavírus, e, portanto, menores efeitos da Covid-19.

Revista Educação Física - Como questionário foi realizado? 
Francis Ribeiro de Souza
- O questionário foi respondido por indivíduos de ambos os sexos e diversas idades que tiveram a infecção pelo SARS-CoV-2 e que já estavam curados. Os participantes responderam a um questionário on-line que incluía perguntas sobre cofatores, como idade, sexo, presença de comorbidades, peso e altura, para cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), nível sócio econômico e nível de escolaridade.  Além disso, reunia questões sobre o quadro da doença, como sintomas causados pelo vírus, se houve internação e por quanto tempo; e a prática de atividades físicas antes da infecção pelo SARS-CoV-2. O preenchimento do questionário demorava entre 8 a 10 minutos. 

Revista Educação Física - Qual foi o critério estabelecido para definir uma pessoa suficientemente ativa?
Francis Ribeiro de Souza
- Para definir o critério de uma pessoa “suficientemente ativa”, foi utilizado como referência as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) para adultos entre 18 e 64 anos – que, por sua vez, estão baseadas nas diretrizes das principais entidades de saúde do mundo. De acordo com a OMS, uma pessoa suficientemente ativa é aquela que pratica pelo menos 150 minutos semanais de exercícios físicos de intensidade moderada e/ou 75 minutos semanais de exercícios físicos mais intensos, como caminhada, corrida, andar de bicicleta, academia em geral, praticar alguma modalidade esportiva, dentre outras atividades. 

Revista Educação Física - Tendo em vista o resultado do estudo, que recomendação o senhor daria às pessoas inativas?
Francis Ribeiro de Souza
- É bem documentado na literatura que o sedentarismo está associado com o desenvolvimento das doenças cardiovasculares como hipertensão arterial, obesidade, diabetes, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral, depressão, doenças articulares. Além disso, pessoas sedentárias apresentam maior taxa de mortalidade. Outro ponto importante, é que com avançar da idade, os idosos começam a perder força e massa muscular, o que está associado à maior risco de quedas. Muitos idosos estão mais restritos em casa para se protegerem durante a pandemia. Contudo, isso não exclui a necessidade de manterem-se ativos. Algumas estratégias como sentar e levantar da cadeira algumas vezes por dia, caminhar pela casa, fazer faxina, utilizar escadas, jardinagem, são algumas opções que podem ajudar no fortalecimento muscular, além de evitar permanecer por muito tempo sentado.

O exercício físico consegue prevenir e combater mais de 30 doenças crônicas, incluindo câncer, síndromes metabólicas e problemas do coração, fatores esses, associados com maior agravamento da Covid-19.  Além disso, pessoas fisicamente ativas têm mais linfócitos e leucócitos, que são células de defesa do organismo. O risco de infecções entre pessoas ativas é menor do que entre sedentárias. Ou seja, ao reduzir a incidência de comorbidades, a atividade física pode ajudar a prevenir o agravamento do quadro da Covid-19. 

Revista Educação Física - Trata-se de estudo observacional. É preciso ter cautela com os resultados?
Francis Ribeiro de Souza
- Embora nosso estudo tenha encontrado uma resposta positiva, é preciso ter cautela com a interpretação dos nossos resultados. Trata-se de um estudo observacional e de associação e, dessa maneira, não foram avaliados os mecanismos que podem explicar a relação entre atividades físicas e hospitalizações pela Covid-19. Além disso, nossa pesquisa não avaliou o risco de ser ou não infectado pela Covid-19. E para aqueles indivíduos que foram hospitalizados, não encontramos uma eventual proteção dos exercícios físicos para tempo de internação, sintomas da doença e necessidade de suporte respiratório.

Revista Educação Física -  O senhor espera que a repercussão do estudo possa contribuir para a redução da inatividade física?
Francis Ribeiro de Souza
- Acreditamos que sim. O sedentarismo está associado a diversos malefícios para a Saúde. E nosso estudo é mais um reforço para a recomendação de que manter-se fisicamente ativo pode melhorar a resposta do organismo em casos de doenças, incluindo melhores chances de enfrentamento da Covid-19.

Revista Educação Física - Quem são os outros pesquisadores que participaram do estudo? 
Francis Ribeiro de Souza
- São eles: Prof. Dr. Marcelo Rodrigues dos Santos [CREF 093236-G/SP] e Prof. Dr. Carlos Eduardo Negrão [CREF 019277-G/SP], do Instituto do Coração do HCFMUSP, Dra. Daisy Motta-Santos (EEFF-TO-UFMG), Profa. Me. Juliana Beust de Lima [CREF 018857-G/RS] e Prof. Me. Douglas dos Santos Soares [CREF 019474-G/RS], da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, além do Prof. Me. Gustavo Gonçalves Cardozo [CREF 020150-G/RJ], da UERJ. O estudo também contou com a colaboração do estatístico Me. Luciano Santos Pinto Guimarães. 
Gostaríamos de agradecer ao Instituto do Coração (InCor, HCFMUSP), instituição-sede, e as agências de fomento à pesquisa científica e tecnológica por fornecerem as bolsas de estudos aos pesquisadores envolvidos: FAPESP, CA-PES, CNPq e PNPD. Além disso, gostaríamos de agradecer todas as pessoas que nos ajudaram na divulgação do estudo

Revista Educação Física - Gostaria de acrescentar algo?
Francis Ribeiro de Souza
- Importante destacar que ainda estamos em pandemia e todas as pessoas têm o risco de ser infectadas pela Covid-19. Embora algumas pessoas possam ser assintomáticas ou apresentar apenas sintomas leves, não podemos esquecer que nem todos terão a mesma sorte. Estamos vivendo uma situação delicada, muitas pessoas estão perdendo familiares e amigos por causa dessa doença. Por isso é muito importante continuar seguindo todas as recomendações das entidades de saúde. Utilizar máscaras, higienizar as mãos frequentemente e manter o distanciamento, independente se é jovem ou idoso, homem ou mulher, ativo ou sedentário. Todos precisam ser conscientes! Além disso, mantenham-se ativos e controlem a alimentação!

O estudo completo está disponível aqui.