Estrela dentro e fora do tatame
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Estrela dentro e fora do tatame

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Transparência, embasamento e paixão: entenda o que move a ex-atleta Natália Falavigna na direção técnica da Confederação Brasileira de Taekwondo


Aos 33 anos de idade, Natália Falavigna [CREF 013915-G/PR] conserva, com a mesma intensidade, a paixão pelo esporte descoberta ainda aos 4 anos. Ela, que durante toda sua infância sonhou ser atleta, hoje impacta diretamente a vida de muitos esportistas. Isto porque Falavigna atua na direção técnica da Confederação Brasileira de Taekwondo (CBTKD), reconstruindo a modalidade após escândalos de corrupção – problema que, segundo ela, só tem uma solução: transparência e embasamento nas decisões administrativas.

Embasamento que sempre esteve na mira da ex-atleta, motivo pelo qual ela decidiu estudar Educação Física. “Eu sempre quis entender o que se passava no meu corpo”, conta, lembrando seu entusiasmo para saber por que determinado exercício deveria ser feito de tal modo, quais seus objetivos, riscos, entre outros.

Talvez por essa característica de nunca se acomodar, Natália não parou mais de estudar. E ela sabe que o estudo é fundamental para formar profissionais competentes, como o esporte merece: “Ele tem que ser trabalhado de maneira profissional. Não há mais espaço para o jeitinho, para o ‘vamos ver se dá’ ou para o achismo”.

Conheça agora um pouco da história dessa taekwondista, empreendedora, gestora e Profissional de Educação Física.

Revista Educação Física - Quando e como a senhora conheceu o Taekwondo?

Natália Falavigna - Desde os 4 anos eu falava para a minha mãe que queria ser atleta. Então eu comecei a participar de várias modalidades esportivas. Fiz Vôlei, Basquete, Futebol, Natação, Tênis, o que você imaginar.  Até que, quando eu tinha 14 anos, uma amiga me chamou para assistir a um treino de Taekwondo. Quando cheguei e vi aquela atividade bastante veloz, em que os participantes chutavam, pulavam, eu achei sensacional e me matriculei por impulso.

Na terceira aula, o professor disse para mim: ‘Treina comigo e daqui a 2 anos você será campeã mundial’. Era tudo o que eu queria ouvir. Aí eu comecei a treinar, e foi tudo muito rápido. Dois anos depois eu fui para o Mundial Junior e ganhei. Foi o primeiro título do país em mundiais na modalidade. Quando vi, já estava com sonhos dentro do Taekwondo. Eu brinco que não fui eu que escolhi o Taekwondo, mas o Taekwondo que me escolheu.

Revista Educação Física – E como surgiu o interesse pela Educação Física?

Natália Falavigna - Eu sempre quis entender o que se passava no meu corpo. Aliás, sempre fui apaixonada pela Educação Física, mas pensava em fazer outra faculdade porque antigamente, algumas vezes, os professores nos desencorajavam a cursar essa graduação. Mas, com o incentivo da minha mãe, quando eu tinha 18 anos, decidi cursar Educação Física e me matriculei na universidade. Hoje eu vejo que foi a melhor escolha.

Revista Educação Física - Mais do que se graduar, a senhora teve uma educação continuada. Houve um planejamento para isso?

Natália Falavigna - Como a minha modalidade não era muito preparada na época, eu peguei uma fase de transição, com a ciência começando a entrar no Taekwondo. O esporte ainda era muito marcial, e eu fui uma das primeiras pessoas no Brasil a conhecer, vivenciar e falar em equipe multidisciplinar na minha modalidade. Então, quanto mais eu fui inserindo a ciência e vendo seus resultados, descobrindo todo o treinamento desportivo, mais isso foi passando a fazer parte da minha rotina. Até que, numa época em que eu estava lesionada, surgiu a oportunidade de cursar um mestrado em Exercício Físico na Promoção da Saúde. Fiz também um programa de transição de carreira dentro do Comitê Olímpico, quando recebi uma bolsa de estudos. Assim, migrei para a área da gestão, da qual eu gostava bastante.

Fiz um MBA em Gestão Estratégica de Pessoas. Eu sempre gostei de estudar e de me aperfeiçoar. Eu entendia que independentemente daquilo que eu fizesse, tinha que estar preparada. 

Revista Educação Física - Hoje, na gestão, a senhora tem influência direta na vida profissional de muitos atletas. O fato de já ter estado na posição de atleta influencia seu trabalho hoje?

Natália Falavigna - Com certeza. Tudo pelo que eles estão passando, eu já passei e, por isso, sei exatamente como é. Não que outro profissional sem essa experiência não tenha capacidade, mas é que esse lado também conta muito. Inclusive, falamos muito isso na gestão da Confederação: nós somos pautados pelo atleta. Ele é nosso ator principal. Tudo tem que ser por ele e para ele. Seja o atleta de alto rendimento ou de base, ele é o protagonista. Eu já senti isso na pele, eu sei do potencial e da referência que um atleta pode ser. Temos que reconhecer esse valor, até porque são eles que levam o nosso nome e expõem a nossa modalidade por aí.

Revista Educação Física - Como a senhora relaciona, hoje, aprendizados que adquiriu no tatame e na faculdade? Eles podem andar juntos?

Natália Falavigna - Em tudo que eu faço. Quando se tem só a vivência do esporte, falta algo. Assim como quando só se recebeu a teoria. Então, eu vivi a parte prática e obtive na universidade e nos estudos a teoria para sustentar aquilo em que eu acreditava, aquilo que dava certo, que dava errado, por que dava certo ou errado, as explicações e consequências. Quando você tem conhecimento, embasa suas intenções. Acho que a teoria e a prática, mais do que nunca, têm que andar juntas.

Revista Educação Física - Pode contar um pouco do seu trabalho hoje na Confederação Brasileira de Taekwondo?

Natália Falavigna - Eu faço parte da direção técnica da entidade. No momento, estamos passando por uma reestruturação. A modalidade passou por uma fase bastante complicada, com intervenção judicial e uma série de denúncias por corrupção e outros problemas. Após esse período, quando o presidente Alberto Cavalcante Maciel Junior [CREF 000142-P/AP] e o vice-presidente Rivanaldo Freitas [CREF 001852-G/RN] assumiram, me chamaram para ser mais atuante dentro dessa gestão. O desafio me motivou. Hoje estamos estruturando a modalidade. Começamos montando regulamentos, normativas, normas gerais, documentando tudo. Estamos trabalhando para transformar a modalidade, deixando-a transparente e com decisões embasadas em dados.

Revista Educação Física - Como essa estratégia de tornar mais transparente pode afetar no desempenho final dos atletas e do esporte?

Natália Falavigna - O esporte no Brasil precisa de transparência. Quanto mais transparentes forem as entidades, e as pessoas souberem para onde vai o dinheiro, mais elas entenderão o custo das ações, as necessidades que o esporte tem. Isso melhora a comunicação com os chamados stakeholders, ou seja, os públicos, e, consequentemente, ajuda nos investimentos públicos, privados, e nos resultados esportivos. No fim das contas, uma boa gestão é feita para as partes interessadas. Quanto melhor você administra, menos você gasta e mais efetiva sua gestão é. Isso, como consequência, vai chegar ao resultado, ao crescimento da modalidade.

Revista Educação Física - Muitos profissionais de Educação Física sonham em seguir a área de Gestão do Esporte. Que competências são imprescindíveis para essa carreira?

Natália Falavigna - Organização, criatividade, resiliência, é preciso saber gerir pessoas, trabalhar em grupo, ter uma visão técnica – a Educação Física é importante nesse ponto, porque traz muita informação específica. É necessário também conhecer um pouco de Administração, para entender o contexto empresarial. No universo esportivo, para um bom desenvolvimento e crescimento, é preciso gerenciar a modalidade como empresa, com metas e objetivos, mas sem desviar da essência desportiva.

Revista Educação Física - Quais seus planos pessoais como Profissional de Educação Física?

Natália Falavigna - Eu gosto do que eu faço, de estar no meio do esporte, de trabalhar com ele. Vivi isso minha vida inteira. Acho que apesar de jovem, consegui acumular experiências e pretendo utilizá-las para contribuir com a minha modalidade e com o esporte como um todo, porque entendo que ele funciona como uma ferramenta de educação e de transformação social. Independentemente de formar atletas olímpicos ou não, conhecer alguém que teve sua vida mudada pelo esporte é totalmente gratificante.