Entidade aposta na atividade física para inclusão social
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Revista Educação Física

Entidade aposta na atividade física para inclusão social

Entidade aposta na atividade física para inclusão social

Democracia desportiva: Instituto Superar oferece esporte adaptado e orientado a pessoas com deficiência

Aos 18 anos, Rafael Carlos, que apresenta má formação generalizada, agenesia do corpo caloso, epilepsia, e utiliza cadeira de rodas para se locomover, conseguiu completar, pela primeira vez na vida, o movimento de levantar os braços, durante uma aula de vôlei sentado. A reação da mãe, Rosângela Vieira, que assistia à partida na arquibancada, como fez em muitos dias de sua vida, foi pura emoção. E não é para menos, afinal, o simples fato de Rafael conseguir levantar os braços já é uma grande vitória. “Para a gente que é mãe, o mínimo já é tudo”.

Rafael não está sozinho. Ele faz parte de um grupo de cem pessoas com deficiência, entre 5 e 30 anos, que é atendido pelo Instituto Superar, no Rio de Janeiro (RJ). A entidade oferece, gratuitamente, esporte adaptado e orientado por Profissional de Educação Física especializado em paradesporto, além de atendimento nutricional e psicológico. A principal busca, no entanto, é por algo que, sob nenhuma hipótese poderia ser comprado: carinho e atenção. Carina Alves, presidente do Superar, não tem dúvidas: “Nossos profissionais amam as crianças e elas amam nossos profissionais. É uma relação muito afetuosa. Isso torna o projeto, apesar de profissional, bem familiar”. 

E assim o programa envolve toda a família da pessoa com deficiência, como explica Carina Alves. “Os profissionais vão ao polo esportivo e atendem alunos, atletas e seus familiares. Nós identificamos, por meio de pesquisa, que mais de 50% das mães tinham um nível alto de estresse. Então, passamos a aplicar técnicas de relaxamento, meditação e atividade física também para elas. Entendemos que não há como não cuidar de quem cuida”. 

Acolhidos, os familiares sabem que nem sempre é fácil encontrar instituições que aceitem seus filhos. Quando encontram turmas específicas para pessoas com deficiência, o serviço geralmente é pago, e muitos não têm condições de arcar com os gastos. No Superar, as atividades são gratuitas e funcionam em todos os polos, de segunda a sexta-feira. Os atendimentos psicológico e nutricional são oferecidos duas vezes por semana. 

Apesar de pertencerem a áreas diferentes, os profissionais que atuam no Superar têm um sonho em comum: acabar com o preconceito contra a pessoa com deficiência. Mas, apesar de otimista, Carina Alves acredita que o caminho a ser percorrido ainda é longo. “Somos uma sociedade preconceituosa. Às vezes vemos pessoas atravessando a rua ao verem uma criança com Síndrome de Down ou um cadeirante. Isto acontece porque elas não sabem lidar. Essa é a questão”. Até o profissionalismo fica prejudicado. “Nós temos relatos de profissionais que deixam de receber uma criança com deficiência numa aula de Educação Física, porque não sabem receber. Dizem que as inscrições estão encerradas. Na verdade, não estão, mas esses profissionais não sabem atender”.

Programa capacita Profissionais de Educação Física e áreas afins para atendimento adaptado

É para preencher essa lacuna que o Pulsar – Programa de Capacitação para Profissionais Paradesportivos –, fruto da união do Instituto Superar, da FIRJAN, da Câmara Alemã e da Universidade de Esportes de Colônia, foi desenvolvido. O curso visa aprimorar o conhecimento de Profissionais de Educação Física e áreas afins de como adaptar pessoas com deficiência as atividades aprendidas durante a vida acadêmica. Quem comprova o aprendizado é Isabela Cruz [CREF 044782-G/RJ], aluna da última edição do Pulsar. “Aprendemos como abordar, receber, colocar dentro da piscina, conversar, tirar e colocar na cadeira. Todas essas questões que são um diferencial”. 

A formação, no entanto, não se limita a fornecer conhecimentos práticos. “O curso é multidisciplinar, o que nos permite receber não só conhecimentos relacionados à Educação Física, mas também à Nutrição, à Psicologia e Mídia. Isso dá um aporte ainda melhor do que eu esperava”, admite Isabela. 

Para Patrick Souza [CREF 033530 G/RJ], professor do Pulsar nas suas duas edições e, hoje, atuante na coordenação do Superar, com 45,6 milhões de pessoas com deficiência no Brasil – um quarto da população -, o Profissional de Educação Física tem que estar preparado. “Em algum momento, vamos cruzar com essas pessoas na academia, no clube ou na escola”. 

Para estar preparado, é preciso buscar conhecimento também fora da universidade. “Na graduação, a carga horária dedicada ao atendimento da pessoa com deficiência é muito pequena. Então, o profissional sai com um vasto conhecimento do corpo humano, mas fica inseguro ao se deparar com uma pessoa com deficiência: conhecimento para aplicar ele tem, mas não sabe por onde começar, como abordar, se pode tocar no assunto, se deve perguntar. O Pulsar vem de encontro a toda essa sistemática para possibilitar a diminuição desse espaço entre o Profissional de Educação Física e a pessoa com deficiência”. 

Até agora, 83 profissionais – não só de Educação Física, mas nutricionistas, psicólogos, pedagogos e assistentes sociais - participaram do Pulsar. Já foram formadas duas turmas, em 2016 e 2017. Os profissionais que se interessarem em participar do próximo grupo devem se programar: as inscrições geralmente são abertas em abril ou maio. O programa dura seis meses, totalizando 120 horas. As aulas acontecem dois sábados ao mês e são divididas em 9 módulos presenciais, com um complemento online.

Para Isabela, só o fato de estar reunida com outros profissionais que buscam se aperfeiçoar no mesmo tema, já foi bastante enriquecedor. “Expande seus horizontes, mas muito mais do que isso, lhe torna um ser humano melhor. Faz com que você olhe para as pessoas ao seu redor com outros olhos”. Foi com esses olhos que Isabela olhou para Rafael Carlos, seu aluno de vôlei sentado no Instituto Superar – citado no início da matéria. Ao lado da mãe do aluno, Isabela compartilhou a emoção do dia em que Rafael conseguiu completar, pela primeira vez na vida, o movimento de levantar os braços, durante sua aula.