Um reconhecimento aos ilustres Mestres da Educação Física
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Revista Educação Física

Um reconhecimento aos ilustres Mestres da Educação Física

Um reconhecimento aos ilustres Mestres da Educação Física

A Educação Física brasileira pode ser contada pelo trabalho de muitos ilustres mestres, alguns dos quais já nos deixaram e são até hoje reverenciados, estudados, admirados. Entre tantos, prestamos homenagem nesta edição a quatro destes grandes profissionais: Inezil Penna Marinho, Alfredo Colombo, Oswaldo Diniz Magalhães e Jacintho Targa, de cuja luta e conhecimento a Educação Física é herdeira. Diversos Conselhos Regionais do Sistema CONFEF/CREFs têm prestado devidas homenagens aos verdadeiros pilares da profissão, muitos com forte influência na educação brasileira. Futuramente, outros tantos, tão valorosos quanto os agora homenageados, estarão nas páginas da Revista E.F., fazendo o que foi a razão de suas existência: ensinar.

INEZIL PENNA MARINHO, cuja produção intelectual sem igual fez com que fosse considerado o Mestre de nossos Mestres, tinha como preocupação fundamental ampliar os limites e a compreensão da Educação Física para além da prática em si. Contar a história de Inezil Penna Marinho é contar em dobro a história da Educação Física brasileira, não fosse ele um de seus maiores historiadores e teóricos. Foi ele quem resgatou a história da capoeira e a dimensionou como ginástica brasileira por excelência. Foi ainda, em outro campo de atuação, um dos iniciadores do movimento associativista profissional além de primeiro presidente da APEF-RJ, publicou diversos trabalhos que serviram de base à regulamentação da profissão.

ALFREDO COLOMBO não só foi aluno de Inezil como destacou-se ao assumir a direção da Divisão de Educação Física do Ministério da Educação e Saúde, em 1954, cargo que Inezil também ocupara. O Prof. Colombo daria início a uma nova era para a Educação Física brasileira, que passaria a contar com amplas informações nos campos da prática e da teoria, com novos métodos de treinamento e educação. Deu liberdade de cátedra aos professores do ensino secundário, anos antes da LDB, popularizou a atividade física montando verdadeiras academia sem plena rua do Rio de Janeiro.

OSWALDO DINIZ foi autor de uma proeza: manteve por 51 anos e 3 meses no ar o programa Hora da Ginástica. Sérgio Carvalho, autor de um livro sobre Diniz, tenta atualmente incluir tal feito no Guiness, o livro dos recordes. Seu programa começou em 1932 e conquistou o país. Diniz acordava os alunos às 6h, com a mesma saudação: Bom dia, Rádio-Ginastas, levando a prática a residências de diversos Estados brasileiros. AHora da Ginástica era retransmitida para grupos de rádioginastas, por exemplo na Praia de Copacabana. Não há na história do rádio brasileiro nenhum programa que se lhe aproxime em idade e utilidade, disse certa vez Cândido Fontoura, o fundador dos Laboratórios Fontoura.

JACINTHO FRANCISCO TARGA foi Diretor da Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul por duas vezes, e Vice-Presidente da FIEP, tendo publicado seu Código de Ética Profissional nas edições francesa, inglesa e espanhola dos Boletins FIEP Nº 4/75, depois também traduzido para o árabe, alemão e italiano. Esta comunicação, intitulada Ética Profissional na Educação Física Desportiva, atingiu todo o país e o mundo, vindo a nortear, a inspirar futuros códigos de ética profissional da Educação Física de diversos países. Targa foi ainda vice-presidente para a América da FIEP.

VAMOS, ENTÃO, CONHECER UM POUCO MAIS SOBRE A VIDA E O TRABALHO DESSES GRANDES PERSONAGENS.

INEZIL PENNA MARINHA

O Prof. Inezil Penna Marinho é considerado uma das mais destacadas, influentes e produtivas personalidades da Educação Física brasileira, sendo lembrado em diversos trabalhos e eventos que buscam resgatar a memória da Educação Física. Entre esses estudiosos figura o Prof. Mário Ribeiro Cantarino Filho, para o qual Inezil Penna Marinho bem merece um biógrafo. Ele acrescenta: Sua obra em prol da Educação Física é extensa, (Inezil) teve uma produção intelectual sem igual, sendo nosso Mestre bem como o mestre de nossos mestres, como dirão os mais jovens. O Prof. Cantarino participou de uma homenagem ao mestre Marinho, por ocasião da realização do VI Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte, em Brasília, em setembro de 1989, quando foi realizado um seminário sobre a vida e a obra do Prof. Inezil. O seminário foi apresentado justamente por Cantarino, que na ocasião fez uma palestra que nos traz muita informação sobre Marinho.
 
Inicialmente a Educação Física e, depois, o Direito, foram as áreas do conhecimento humano onde Inezil Penna Marinho registrou a sua presença, como professor e advogado, registra Cantarino. Sua passagem pela antiga Divisão de Educação Física (DEF), do Ministério da Educação e Saúde, nos anos 1940, e sua atividade fértil nos anos 1950, na Escola Nacional de Educação Física e Desportos (ENEFD), da Universidade do Brasil, são os testemunhos de sua obra pela Educação Física brasileira. A DEF, além de pioneira, foi um dos mais importantes órgãos federais ligados à Educação Física. Lá, Inezil passaria a assistente de ensino em 1940; em 1941, já era técnico de educação, o primeiro do Brasil ligado à Educação Física, e chefe da Seção Pedagógica da DEF, onde fez carreira antes mesmo de se formar na ENEFD, em1943.

Não foram poucas as vezes que ganhou concursos de trabalhos, sentenças ou cartazes para o desenvolvimento da Educação Física. Em 1958, já tinha mais de 100 monografias e dezenas de livros publicados, muitos dos quais em outras áreas de conhecimento. Já publicara mais de 1.000 artigos em revistas como: Revista Brasileira de Educação Física, Educação Physica, Revista de Educação Física, Cultura Política, Boletim da DEF, Arquivos da ENEFD, entre outras. A preocupação com a Metodologia do Treinamento Desportivo, assunto hoje tratado academicamente nas Escolas de Educação Física, foi motivo de uma monografia especial elaborada em 1944 por Inezil Penna Marinho; logo em seguida esta preocupação foi estendida ao Futebol, à Capoeira e à Esgrima. Seus escritos sobre aquele tema atestam uma visão, avançada, sobre a necessidade de serem sistematizados os princípios que regem o Treinamento Desportivo.

É de Inezil Penna Marinho o livro Subsídio para o Estudo da Metodologia do Treinamento da Capoeiragem, um dos primeiros estudos (1945) sobre a utilização da Capoeira como método de defesa pessoal e ginástica, sistematizando-o também seu reaproveitamento como desporto. A pesquisa levou o Prof. Inezil a definir a Capoeira como a Ginástica Brasileira. Não há registro da existência da capoeira ou qualquer outra forma similar à capoeira no continente africano. Em 1966, Inezil pôde confirmar esta convicção quando esteve em Angola, a fim de pesquisar uma possível origem da capoeira. Ele chegou à conclusão de que ela era inteiramente desconhecida por lá, quer entre os eruditos, quer entre os nativos, a cujas festas religiosas e danças guerreiras ele assistiu.

A importância do livro reveste-se de vários significados. Todo relato anterior sobre a Capoeira foi queimado por ordem de Rui Barbosa. O livro, portanto, participa de um duplo resgate desta arte: enquanto atividade física e enquanto história do Brasil. Curioso é que, no Brasil Império, em 1851, a Lei de n.º 630 já incluía a ginástica nos currículos escolares. Embora Rui Barbosa não quisesse que o povo soubesse da história dos negros, preconizava a obrigatoriedade da prática da Educação Física nas escolas primárias e secundárias.

Em Sistemas e Métodos de Educação Física, editado em 1953 e com diversas edições sucessivas, Inezil analisa, com profundidade de mestre, os mais diversos sistemas ginásticos e de atividade física então existentes. A Ginástica Sueca, a Calistenia, a Ginástica Dinamarquesa, e outros sistemas, são avaliados quanto aos aspectos técnicos e em sua evolução histórica. Em 1943, Marinho publica um de seus mais importantes estudos. Contribuições para a história da Educação Física no Brasil foi o primeiro a abordar o assunto com a profundidade que merecia em suas mais de 600 páginas. Anteriormente, sobre o assunto somente se encontravam breves, fragmentadas e superficiais citações ou pequenos capítulos em livros. Tal estudo é republicado, com algumas modificações, em 1952/1953, dividido em quatro volumes, tornando-se essa versão mais conhecida do que a anterior. Houve inclusive uma publicação resumida em 1980, tal a carência de novos estudos sobre o assunto. Até hoje muitos estudos se valem da obra do Prof. Inezil como fonte.

Filho do Cônsul Ildefonso Ayres Marinho e de Ignez Penna Marinho, o ex-aluno do Colégio Pedro II, Inezil Penna Marinho desde a juventude se destacava pelo gosto pela prática de esportes e pelo interesse pela filosofia, história e poesia. Como esportista chegou a ser campeão de pólo aquático pelo clube Boqueirão do Passeio e de luta livre pelo Flamengo, entre outros esportes dos quais tomava parte. Quando aluno da Escola Nacional de Educação Física e Desportos (ENEFD), entre 1941 e 1943, foi campeão universitário de pólo aquático e vice de voleibol, chegando mesmo a ser recordista universitário de atletismo nos 800m, 1500m, 3000m e 4 x 400m. No território da Poesia Lírica, escreveu Castália, Amor & Lembrança e Oh, Grécia. Como poeta, Inezil ganhou alguns concursos. Entre eles, por exemplo, o prêmio de literatura da Academia de Ciências e Letras de 1933, com o poema Tetrálogo dos Cavaleiros do Apocalipse.

O Prof. Victor Andrade de Melo, do Programa de Doutorado em Educação Física da Universidade Gama Filho e estudioso da obra do Prof. Inezil, destaca estudos menos conhecidos, como o inovador Que meios utilizavam os nossos índios para sua educação física, publicado em 1942, além de artigos publicados nos Arquivos da ENEFD, onde, afirma, é possível identificar uma grande disposição para reorientar o estudo da História da Educação Física, tornando-o de natureza interpretativa, valorizando outras fontes e estando ligado a uma necessidade de compreensão da sociedade e da constituição do campo da Educação Física e do papel social dessa.

Em 1949, Inezil foi aprovado em concurso público para professor da ENEFD, primeiro para livre-docente, depois para catedrático. Curiosamente sua aprovação fora para a cadeira de Metodologia da Educação Física e não para a cadeira de História e Organização da Educação Física e dos Desportos. É somente em 1956, com a morte do Prof. catedrático Aloísio Aciolly (com quem Inezil chegou a escrever o livro História e Organização da Educação Física e dos Desportos), que sua passagem para a cadeira de História se torna possível. Como já era catedrático, bastava-lhe pedir a transferência. Contudo, por julgar mais justo, preferiu realizar o concurso. Ao ser aprovado e posteriormente assumir a cátedra de História, abriu mão da cátedra de Metodologia, atitude rara por se tratar de cargo vitalício. Enquanto permaneceu na ENEFD, somente dividiu suas aulas de História com as funções de técnico de educação da DEF.

A atenção de Inezil para as questões ligadas à Recreação e aos jogos estava diretamente ligada ao seu conceito de Educação Física, que influenciou alunos como Alfredo Colombo. Desde a década de 1940, vinha criticando a adoção do Método Francês e sugerindo a necessidade de elaborar um Método Brasileiro a partir de um conceito de Educação Física ampliado. Segundo Inezil, dever-se-ia substituir o conceito anátomo-fisiológico de Educação Física por um conceito bio-psico-sócio-filosófico, onde o prazer, o desenvolvimento integral e o aspecto educacional ficassem sempre ressaltados.

Neste rumo, Inezil foi precursor da discussão sobre a ação de médicos como normatizadores das atividades físicas e até mesmo sua influência no interior das Escolas de Educação Física da época, cujo aspecto positivo é a atual conformação das grades curriculares. Contudo, a maior fundamentação científica dos médicos gozava de notabilidade e dificilmente era questionada pelos Professores de Educação Física. Ao historiar a participação de Penna Marinho na questão, Andrade de Mello relata sua polêmica com João o Peregrino Júnior. Em resumo, o grande debate se deu? por ocasião das discussões acerca dos grupamentos 8 homogêneos nas aulas de Educação Física. O Peregrino Júnior, um dos mais conceituados professores da ENEFD, acreditava que a classificação das turmas deveria ser de natureza morfofisiológica, enquanto Inezil acreditava que deveria ter um caráter pedagógico, de natureza bio-sócio-filosófica. Penso que Peregrino Júnior não esperava uma reação tão categórica como a de Inezil, que fez uso de toda sua erudição para argumentar que a proposta do médico era ultrapassada e somente aplicável em laboratórios, comenta Andrade.

Como diretor-geral da Revista Brasileira de Educação Física e Desportos (RBEF), passou a abrir espaços cada vez maiores para artigos de professores de outros países da América Latina. A RBEF passava por dificuldades e, antes que fechasse, Inezil resolveu sustentá-la. De início usou todas as suas economias, e paulatinamente foi aumentando o número de assinantes. Inezil assumiu a revista com 146 assinantes e logo esta tinha mais de 1.000, sendo 300 no exterior.

A contribuição de Inezil Penna Marinho inclui, ainda, reflexões quanto a crianças portadoras de deficiências, participação em congressos no exterior, atuação como Presidente da Confederação Brasileira de Desportos Universitários, participação na Associação de Professores de Educação Física e contribuições para o treinamento desportivo. Após 1958, se mudou para Brasília e se dedicou mais à Advocacia, atividade que o absorveu nos últimos 29 anos de vida. Em reconhecimento ao seu trabalho e à sua obra feita pela cidade, o Governo do Distrito Federal outorgou-lhe, em 21 de abril de 1987, um mês após o seu falecimento, a Medalha do Mérito Alvorada.

A maior dedicação de Marinho à advocacia, não o afastou das questões essenciais da Educação Física. Foi fundador e primeiro Presidente da APEF-RJ, na década de 1940, e um dos iniciadores do movimento associativista profissional. Foi ele a principal liderança no processo histórico do movimento pela regulamentação da profissão, que teve um Projeto de Lei nesse sentido aprovado pelo Congresso Nacional, mas vetado pelo Presidente da República, em 1985. Trabalhos publicados por Inezil sustentavam uma condição diferenciada para a Educação Física brasileira, para além da própria Licenciatura, estabelecendo as bases da profissão. Estas contribuições estão, sem dúvida, estreitamente ligadas ao movimento que se seguiu e que, em 1998, numa segunda fase, culminou com a vitória da regulamentação profissional e com a própria criação do CONFEF.

ALFREDO COLOMBO

O Prof. Alfredo Colombo assumiu a direção da Divisão de Educação Física do Ministério da Educação e Saúde em 1956, no governo de Juscelino Kubitschek. A partir daí, começava uma nova era para a Educação Física brasileira, que passaria a contar com amplas informações nos campos da prática e da teoria, com novos métodos de treinamento e educação. Para o Prof. Darcymires do Rêgo Barros, aluno de Colombo na ENEFD Escola Nacional de Educação Física da Universidade do Brasil e seu posterior colaborador, deve-se ao Prof. Colombo, em especial, o grande impulso na Educação Física brasileira, sobretudo na Educação Física Escolar e na Recreação Comunitária. A Educação Física no Brasil tem dois períodos: antes de Colombo e depois de Colombo. Ele sempre foi revolucionário, com idéias avançadas e um sentido muito grande de organização. Organizou, por exemplo, a Superintendência da Confederação Brasileira de Basquetebol na década de 1950. Depois de viajar aos Estados Unidos e Escandinávia, voltou muito entusiasmado concebendo idéias renovadoras de modificações na estrutura da Educação Física brasileira, nos conta o Prof. Darcymires.

Colombo foi professor de Ginástica Geral na ENEFD. Primeiro ocupou a cátedra, tornando-se Professor Titular quando a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) extinguiu as cátedras. Uma das grandes mudanças executadas por ele foi dar liberdade de cátedra para os Professores do ensino secundário (elementar e médio), cinco anos antes de a LDB estendê-la a todas as áreas da educação brasileira. O chamado Método Francês, que pretendia o desenvolvimento anátomo-fisiológico do ser humano, era o sistema didático-pedagógico obrigatório. Ele acreditava que este método já estava ultrapassado e extinguiu a obrigatoriedade da prática nas escolas secundárias, dando aos Professores de Educação Física liberdade de cátedra a partir de 1956, desde que utilizassem métodos objetivos com a juventude estudantil. Em 1961, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional foi aprovada pelo Congresso Nacional, introduzindo a psicologia na educação e proporcionando liberdade de cátedra ao ensino brasileiro, liberdade que a Educação Física tinha desde 1956 graças ao Prof. Colombo, ressalta o Prof. Darcymires.

Isso possibilitou aos professores de Educação Física, inicialmente, a orientação de uma forma de trabalho físico intitulada de Ginástica Metodizada, já conhecida pelos alunos de Colombo na ENEFD nos anos de 1949-50, um misto da Ginástica Calistênica em substituição às duas primeiras partes do Método Francês, seguido a aplicação das famílias daquele método: andar, trepar, saltar, levantar e transportar, correr, atacar e defender, finalizando com a volta à calma. Para Darcymires, a Ginástica Metodizada foi uma transição, já que imediatamente trouxe ao Brasil uma miríade de professores de mais alto nível no cenário internacional.

Muitos professores, por demais acostumados ao Método Francês, tinham alguma dificuldade em desenvolver outras metodologias naquele momento. Precavendo-se para esta possibilidade, Colombo convidou figuras de ponta da Educação Física mundial para ministrar cursos de atualização no Brasil, que denominou de Estágios. Aceitaram o convite alguns professores famosos, como Auguste Listello, da França; o Prof. Karl Koch, da Áustria, enviou seu jovem assistente Gerard Schmidt, que apresentou concepções avançadas da Ginástica Natural Austríaca no campo da Educação Física Escolar; Ivan Vargas, da Iugoslávia, com a Ginástica Natural; Piero Manarino, da Itália; Milton Confré, do Chile; Nelly Gomes, também do Chile;além de Margareth Froelich, da Suécia.

A Ginástica Rítmica foi um dos sonhos do Professor Colombo, que não teve dúvida em convidar ao Brasil Margareth Froelich e Ilona Peuker. Esta, húngara de nascimento, naturalizada austríaca, vivia no Rio de Janeiro desde 1953, quando havia sido campeã do Torneio Internacional de Ginástica Moderna, na Áustria. Colombo auxiliou a organização dos primeiros treinamentos de ginástica rítmica no Brasil, além de obter verba para Ilona Peuker levar sua equipe na Gymna estrada de Zagreb. O contato com os professores estrangeiros por meio dos encontros denominados Estágios Internacionais foi muito profícuo, dando início à construção da Educação Física Escolar brasileira..

Os Cursos de atualização organizados por Colombo atraíam, a cada ano, cerca de 600 professores. Vários voltavam a seus Estados como repassadores de novos métodos. Foram criados, também, os Cursos de Suficiência em Educação Física para os professores leigos que atuavam no interior do Brasil e em algumas capitais, onde não havia professor de Educação Física diplomado. Durante 45 dias, estudavam disciplinas como anatomia, fisiologia, psicologia, ginástica e organização desportiva. Ao final, se aprovado,o aluno recebia uma autorização para continuar ministrando Educação Física nas escolas. Caso contrário, recebia uma autorização provisória por seis meses a um ano para lecionar em sua escola e em sua cidade, a fim de tentar nova aprovação. Estes cursos perduraram até 1962, quando foram substituídos por cursos de atualização.

Segundo o Prof. Darcymires, uma das coisas mais espetaculares feitas por Colombo foi a criação das Ruas de Recreio no então Distrito Federal, em 1957. A primeira dessas ruas foi instalada na Avenida Engenheiro Richard, no Grajaú recorda o Prof. Darcymires. A rua era fechada por alguns dias e levava-se para o local, redes de vôlei, plintos, colchões, mesas de xadrez e damas, cordas para que se pudesse subirem árvore e jogar cabo-de-guerra.

Inspetores de Educação Física do MEC levaram a idéia a outros Estados, e as Ruas de Recreio logo se tornaram populares. No verão seguinte, na praia carioca do Leblon, foi criada a Praia de Recreio: dois professores orientavam práticas de atividades físicas das 7h às 10h30, por faixas etárias.

Foi iniciativa de Colombo organizar competitivamente o desporto escolar no Rio de Janeiro. Alguns jogos aconteciam isoladamente, e Colombo, a partir da reunião com os Inspetores de Educação Física, organizou os Jogos Escolares com regras e patrocínio. Os regulamentos básicos sobre os Jogos Escolares Nacionais e Regionais, além dos Jogos das Escolas Católicas e a criação de Clubes Escolares foram elaborados por Colombo e sua equipe na DEF, composta dos professores Sebastião Cruz, Romeu de Castro Jobim e Yésis Amoedo y Passarinho. A partir daí os Inspetores de outros Estados da Federação adaptaram esses regulamentos e criaram também seus Jogos, cuja organização em nível nacional viria a acontecer em 1971 com os Jogos Escolares Brasileiros, efetivados pelo Prof. Félix dÁvila, atual Presidente do CREF9/PR.
O Prof. Alfredo Colombo foi, é e será sempre o paradigma da Educação Física brasileira, finaliza o Prof. Darcymires.

OSWALDO DINIZ MAGALHÃES

Falar do Prof. Oswaldo Diniz Magalhães é falar de seu programa Hora da Ginástica; e falar do Hora da Ginástica é falar da história da ginástica pelo rádio no Brasil - e da própria história do rádio no país: afinal, quantos programas radiofônicos ficaram 51 anos e 3 meses no ar? O próprio mestre, no depoimento que originou o livro Hora da Ginástica: Resgate da Obra do Professor Oswaldo Diniz Magalhães, de Sérgio Carvalho, dava a dimensão da importância do programa em sua vida. Na crônica Oswaldo por ele mesmo, que abre o livro, o Prof. Diniz é enfático: Prefiro falar sobre a Hora da Ginástica, razão de igual forma importante de minha existência. Todo o livro foi feito com a participação direta de Diniz.

Durante 40 anos, Diniz irradiou o programa ao vivo, diariamente. Cansado de seguidas ameaças de corte de verba e fim do programa, despediu-se da Rádio Ministério da Educação e Cultura, em 16 de maio de 1972, causando um grande impacto entre a enorme legião de rádio-ginastas, que organizaram movimentos, publicaram manifestos. De 17 de maio de 1972 até o ano de 1983, o programa foi transmitido pela Rádio Rio de Janeiro, porém sem a presença do professor tratavam-se de gravações. Com o preparo deste livro, pude reviver as diversas etapas realizadas nos durante 51 anos e 3 meses com entusiasmo pela tenacidade, convicção e esperança pelo bem de nossa gente, disse Diniz em 1994, quando o livro foi lançado. Atualmente, Carvalho tenta incluir o programa de Oswaldo Diniz no Guiness Book of Records como o programa de maior duração do rádio brasileiro no gênero.

Célia Magalhães Balthazar, falando como filha e secretária, na Apresentação do livro, dizia, em 1994, que o trabalho realizado pelo rádio, de1932 a 1983, transmitindo ininterruptamente o programa Hora da Ginástica que divulgava ensinamentos de saúde, moral e civismo, idealizado e realizado pelo Prof. Oswaldo Diniz Magalhães, despertou em Sérgio Carvalho um grande interesse, principalmente, quando este percebeu a necessidade de consolidar, em um livro, a memória daquele programa. (...) Hoje com 89 anos, Oswaldo Diniz Magalhães vê com grande alegria a concretização do projeto do Prof. Sérgio Carvalho, considerando-o como o coroamento de sua obra. Carvalho é Titular de Educação Física na Universidade Federal de Santa Maria, além de radialista e Doutor em Ciências da Comunicação.

Ninguém melhor que o próprio Prof. Oswaldo Diniz para relembrar como foi se interessar pela Educação Física. Destacamos alguns trechos da crônica mencionada: Nasci no dia 15 de outubro de 1904. Meus pais, Adolpho Magalhães e Francisca Diniz Magalhães, junto à minha avó materna, Emília, moravam em casa espaçosa na rua Lins de Vasconcelos 361, no Méier. (...) Em 1917, aproximadamente, moramos na rua Campos Sales, em frente ao America Futebol Clube. Influenciado pela intensa atividade esportiva que presenciava no clube, pedi a papai para fazer parte do Departamento Infantil e poder, assim, aprender a jogar futebol e também freqüentar outros programas do clube.

(...) Naquele tempo, a Educação Física ainda não tinha a eficiência técnica desejada. Eram poucos os professores preparados, e as atividades físicas não tinham o controle necessário. Com o passar dos anos, a Educação Física no Brasil alcançou nível técnico e pedagógico, assegurando ao nosso povo todos os meios de melhorar a saúde e aumentar a sua capacidade de trabalho.

Em 1921, pretendia ingressar na Escola Militar, na época, situado em Realengo. Pouco tempo depois, porém, numa viagem de bonde, vi um cartaz colorido da Associação Cristã de Moços anunciando as atividades do seu Departamento de Educação Física: aulas de ginástica, de aparelhos, voleibol, basquete e outras práticas. (...) No dia seguinte, fui conhecer a sede da Associação e gostei de tudo que vi.

Diniz veio a trabalhar na própria Associação, como monitor. Em pouco tempo mudava os planos de carreira militar pela forte determinação de ingressar no Instituto Técnico das Associações Cristãs de Moços Sul-Americanos. O curso de Educação Física do Instituto Técnico, de nível universitário, era de quatro anos, sendo os dois primeiros realizadas no Rio e os terceiro e quarto anos em Montevidéu.

Iniciei o curso no Rio em 1924 e terminei o quarto ano no Uruguai em dezembro de 1927, relata o Prof. Diniz. Meu diploma, por ser estrangeiro, foi oficialmente reconhecido pela Escola de Educação Física do Exército após estágio em 1933.

Segundo Diniz, sua escola radiofônica começou a virar idéia antes de suas provas finais, no último trimestre de 1927, em Montevidéu. Segundo ele, dias antes, examinando dados estatísticos e culturais do Brasil, observou três melancólicas revelações: o baixo nível de saúde da população, a pouca aplicação das atividades físicas e os precários recursos técnico-pedagógicos da difusão educativa em todo território nacional. Diante disso, esclarece em entrevista ao Prof. Sérgio Carvalho publicada em seu livro, escolheu um meio de comunicação, o mais poderoso da época, o rádio, pelo seu poder de ubiqüidade, estar em toda parte ao mesmo tempo, vencendo imensas distâncias. Seu objetivo estava traçado: fazer de cada lar um ginásio e de cada família uma turma de rádio-ginastas, beneficiando milhares de alunos diariamente, em suas próprias residências. Escolhemos a ginástica, base fundamental da Educação Física, que seria facilmente praticada pelo rádio, diante de mapas de exercícios selecionados, essenciais

O próprio Diniz admite: ninguém acreditava na idéia. Além de existirem poucas emissoras na época, a receptividade da Educação Física não era das melhores. Custou-me muitas desilusões e amarguras. Não desanimei, mas tive muita vontade. Após várias tentativas junto ao diretor da Rádio Educadora Paulista, Dr. Edmundo de Carvalho, voltou a procurá-lo lembrando que ele, como médico,deveria apoiar seu objetivo, e conseguiu finalmente um teste. No terceiro exercício o diretor, que acompanhava a aula da sala ao lado, entrou sorridente dizendo: Ótimo! Gostei! Prepare-se para começar seu programa na próxima segunda-feira. Isso foi em São Paulo em 16/5/32. Assim começou a ginástica pelo rádio no Brasil.

Para nortear a sua escola, o Professor Diniz começou a criar uma base programática para seus ensinamentos de ginástica através do rádio. Além das aulas baseadas em 4 mapas com diferentes tipos de exercícios, o programa Hora da Ginástica desenvolvia campanhas de saúde, registrava diariamente o recebimento de relatórios e cartas dos alunos, promovia dissertações sobre os objetivos da Educação Física, divulgava normas de higiene, moral e civismo; procurava diversas possibilidades de cooperação, por exemplo com pais e professores na formação de turmas e orientação das crianças. Suas aulas tinham acompanhamento ao piano, um locutor para propaganda. Foi criado um uniforme da Hora da Ginástica, emblema, o Hino da Ginástica pelo Rádio, com letra e música do próprio Diniz.

O desenvolvimento de hábitos sadios como não fumar, não beber etc. sempre foi uma constante dentro da escola, junto às campanhas por exames periódicos de saúde: foi criada inclusive uma ficha médica para controle e acompanhamento da saúde dos rádio-ginastas. A avaliação médica retornava ao Professor Oswaldo para complementação dos seus estudos 12 antropológicos e etnológicos dos brasileiros. Entre suas preleções estavam a obesidade, a mastigação, a vacinação. Também pesquisava a combinação de dietas e exercícios. A parte de ginástica de cada programa radiofônico costumava ter calistenia, marcha, exercícios livres e com bastão, corrida, marcha final, além do suplemento de caráter informativo. O vigor empregado nas aulas obedecia a uma linha ascendente e gradativa de energia em três lances até alcançar um determinado grau de esforço.

Baseado em sistema americano, Diniz criou o Código do Bom Cidadão, que incluía diversas leis: a lei do domínio de si mesmo, a lei da boa saúde, da bondade, da camaradagem, da confiança em si mesmo, do dever, da confiança, da verdade, do trabalho bem feito, da cooperação e a lei da lealdade. A ginástica beneficia a grande massa humana. É a base que torna possível o ponto mais alto o onde se unem a saúde física e moral, definia.

Hora da Ginástica era retransmitido por muitas emissoras 10 das quais apenas no Rio de Janeiro e em São Paulo. O programa de Oswaldo Diniz atingiu tamanha popularidade que seus entusiastas decidiram criar a Associação dos Rádio-Ginastas (ARG), que tinha entre seus objetivos congraçar todos aqueles que, sentindo-se beneficiados com a prática dos exercícios da Hora da Ginástica do Professor Oswaldo Diniz Magalhães, deseja sem cooperar para sua expansão levando outras pessoas a praticá-los e fruir também idênticos benefícios. Os membros faziam reuniões periódicas, estudando e executando as diversas maneiras de alcançar essa finalidade, desde a propaganda direta à difusão pelo rádio, imprensa e outros meios de divulgação. Entre outras diversas atividades, a ARG desenvolvia atividades filantrópicas, promovia excursões e passeios para maior contato com a natureza e confraternizações.

Um dos feitos da ARG é relatado por Sérgio Carvalho da seguinte forma: Na manhã ensolarada de 16 de maio de 1957, na Praça Saenz Peña (Rio de Janeiro), foi inaugurado o monumento planejado e construído pelos a rádio ginastas dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais para a comemoração do Jubileu de Prata da Escola Radiofônica. Durante a inauguração, todos cantaram o Hino da Escola, acompanhados pela Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro.

Todo ano, a Festa da Alvorada comemorava o aniversário do programa, até 1972, quando ainda era apresentado ao vivo. De acordo com Sérgio Carvalho, são inúmeras e quase impossíveis de relatar as homenagens, títulos e honrarias prestados por entidades, organizações, órgãos governamentais e grupos que cidadãos (que) exprimiram sua admiração e carinho pelo Professor Oswaldo Diniz Magalhães e sua obra de educador. Diniz escreveu diversos trabalhos, publicados em vários jornais, como o Diário de São Paulo e o Diário de Notícias. Também foi redator de rádioede revistas, utilizando o pseudônimo Dom.

Por seus escritos vê-se o quanto a Educação Física avançou desde aquele tempo, em grande parte graças ao trabalho do próprio Diniz. Em 1929, publicou no Diário de São Paulo um texto intitulado Comoé possível fazer progredir a educação physica entre nós, um dos textos de Diniz reproduzido por Carvalho. Neste texto, traça o seguinte quadro da época: A situação em que se encontra a Educação Physica em todo o Brasil é bem desfavorável. Infelizmente ainda não temos um desenvolvimento que possa merecer o nome de Educação Physica Nacional. (...) Há várias outras modalidades da Educação Physica muito mais importantes e que constituem 80% da Educação Physica Nacional. Por exemplo, a educação physica escolar. Que temos disso? Nada. O que existe não é educação physica escolar, é um pouco de movimentos desordenados. No mesmo artigo, Diniz propõe o desenvolvimento de programas voltados às classes operárias, a escolas públicas e clubes, além da irradiação de aulas de ginástica. E finaliza: A melhor forma de se estabelecer a educação physica é tornal-a uma força indispensável na vida humana; é incluil-a desde cedo, na vida das crianças de modo que elas se desenvolvam a sintam sempre a necessidade de praticá-la (texto original).

Diniz faleceu em 26 de janeiro de 1998, aos 93 anos, de pneumonia. Homenageado constantemente como pioneiro no ensino de exercícios através do rádio, sua vida e sua obra já deram vida a livros, a trabalhos acadêmicos, como teses de doutorado. Não há na história do rádio brasileiro nenhum programa que se lhe aproxime em idade e utilidade, disse certa vez o fundador dos Laboratórios Fontoura, Cândido Fontoura, criador do Biotônico, sobre a Hora da Ginástica. Um trabalho sem igual, que mantém viva a voz com a qual, durante os 51 anos em que esteve no ar, Diniz acordava os alunos às 6h, com a mesma saudação: Bom dia, Rádio-Ginastas.

Jacintho Targa

Uma das mais notáveis contribuições do Professor Jacintho Francisco Targa à Educação Física Mundial foi o Código de Ética escrito por ele quando ocupava a vice-presidência da FIEP para a América. O texto, divulgado a partir da Associação de Professores de Educação Física do Rio Grande do Sul, foi publicado primeiramente em português, francês e espanhol, em 1975, sendo posteriormente traduzido para o árabe, alemão e italiano. Este Código influenciou todos os códigos nacionais de ética profissional que lhe seguiram. Antes disso, no Brasil, a Educação Física dispunha apenas dos primeiros códigos surgidos nos tempos fascistas do Estado Novo, com a denominaão de códigos disciplinares.

O chamado Código de Ética Profissional da Educação Física, Desportiva e Recreativa, de Targa, procura estabelecer critérios para o compromisso e cumprimento de ações dos Profissionais de Educação Física sob preceitos éticos, sustentados em valores como tolerância, cooperação, respeito, responsabilidade e honestidade, entre outros, destinados a promover um impacto significativo no desenvolvimento integral dos alunos ruma a uma vocação de justiça, paz e solidariedade. O professor Targa foi um dos fundadores da Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

LEI Nº 8397
Denomina Rua Professor Jacintho Targa um logradouro público localizado no Bairro Restinga.
O PREFEITO MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE.
Faço saber que a Câmara Municipal aprovou e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º - Fica denominado Rua Professor Jacintho Targa o logradouro público localizado no Bairro Restinga, atualmente conhecido como Rua B Estrada Barro Vermelho.

Parágrafo único - As placas denominativas conterão, abaixo do nome, os seguintes dizeres: Professor de Dirigiu a ESEF em duas ocasiões, de 27/9/1945 a 9/10/1953, e de 3/11/1964 a 19/10/1965, desta vez dividindo a direção com Arno Tschiedel e Nei Serres Rodríguez.

Targa teve participação ativa no grande movimento pela federalização da ESEF e sua integração à Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que arregimentou e empolgou a direção, professores e alunos. Já em 1949 o Deputado Federal Antero Leivas apresentava um projeto a Câmara Federal e em 1950 (1 de Fevereiro) o Professor Jacintho Targa, por delegação de todos os seus colegas, viajava para o Rio afim de exercer uma ação mais direta sobre os órgãos governamentais. Mas os esforços esbarraram na firme decisão presidencial e não assumir novos encargos para o orçamento de 1950. A luta prosseguiu sem esmorecimento e a federalização vem a surgir pelo Decreto n 997, de 21 de outubro de 1969. Sua produção acadêmica teve destaques como o livro Teoria da educação físico-desportiva-recreativa, de 1973. Trabalhos do Prof. Targa são de larga utilidade, como os seus estudos acerca da ginástica laboral corretiva, destinada a restabelecer o antagonismo muscular de forma atratar ou prevenir vícios posturais das atividades diárias.

Profissional reconhecido no Brasil e no exterior, teve atuação destacada em seu Estado, que o homenageou batizando uma rua com seu nome.

Educação Física e Militar.
Art. 2º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
PREFEITURA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE,
29 de novembro de 1999.
Raul Pont, Prefeito.
Newton Burmeister, Secretário do Planejamento Municipal.
Registre-se e publique-se.
José Fortunati, Secretário do Governo Municipal.

A FIEP, O CONFEF E A ÉTICA

A Fédération Internationale d'Education Physique FIEP , organismo mundial de Educação Física mais antigo do Planeta (fundado em 1923) e que edita a primeira revista internacional desta área (desde 1931), ao completar seus 80 anos, tendo pela primeira vez um latino-americano na sua presidência, não pode deixar de se manifestar quando o Conselho Federal de Educação Física CONFEF ,do Brasil, seconsolida como protagonista principal do rompimento do status quo anterior e da própria evolução da Educação Física brasileira.

Atualmente, a Educação Física brasileira, marcada por influências européias e até norte-americanas, graças ao CONFEF consegue explicitar na vitrine internacional os caminhos que encontrou para o revigora-mento dos seus Profissionais e para a construção de um modelo nacional pertinente com a interatuação da chamada pós-modernidade com a nossa sociedade nacional.

No momento em que todas as áreas do conhecimento e atuação humana passam invariavelmente pela discussão da questão maior da Ética, e em que todas associedades buscam referências e sentidos de protago-nismo, o Brasil, de forma única e inequívoca inequívoca, mostra às nações mais desenvolvidas a sua solução para enfrentar as dificuldades culturais, sociais, educacionais e políticas no campo da Educação Física, criando pontes para a transposição da passagem do cartesianismo para a complexidade.

Neste momento sublime de celebração, não é demais lembrar que a FIEP estabeleceu no seu Manifesto Mundial
2000 de Educação Física as mudanças necessárias na interpretação conceitual da Educação Física, e que o CONFEF, neste seu curto período de existência, acompanhou os nortes deste documento, atualizando o Brasil com o debate do resto do mundo, sem perder de vista os seus aspectos e conjunturas de identidade cultural. A Carta Brasileira de Educação Física é uma evidência desta afirmação.

Por justiça, é imprescindível sempre resgatar que esta caminhada vitoriosa do CONFEF, que já antecede os primeiros cem mil profissionais registrados, teve no Prof. Jorge Steinhilber o grande condutor e que, por isto mesmo, merece o reconhecimento ao ser chamado de o Dom Quixote da Educação Física brasileira.
Finalmente, concluo afirmando: nos últimos tempos, nada foi mais importante para a Educação Física brasileira do que a regulamentação do seu profissional.

Oswaldo Diniz tem muitos casos pitorescos entre as lembranças de seus anos como radialista-professor. Eis um deles:
Numa das idas a São Paulo para uma irradiação festiva do programa pela Rádio Cultura (da Rede de Saúde) coincidiu que a semana era de exercícios com bastão. Já no estúdio, pouco antes de começar a aula, notamos a falta do bastão. Foi um corre-corre! Todos os presentes procuravam resolver o problema que, afinal, no último momento, um empregado da Rádio entrou com uma vassoura e rapidinho, tirando a escova, fez aparecer o bendito bastão. Ao terminar a aula, sem eu perceber, um aluno do Rio pediu autorização para ficar com o cabo. Trouxe-o para o Rio e preparou uma bela surpresa: mandou colocar uma plaqueta de ouro, no meio do bastão, com os dizeres:
Ao prof. O. D. Magalhães, lembrança da memorável aula de 13/12/48, em São Paulo. O.F.L.D.Fernandes
Este bastão até hoje é usado por minha filha em seus exercícios diários.

Sua preocupação fundamental era ampliar os limites e a compreensão da Educação Física para além da prática em si narra Andrade de Melo. Seu desejo era encará-la como uma importante dimensão da cultura, cujas origens remontavam ao passado. Enfim, mais do que um estudioso que percebeu a importância da História para a Educação Física, o Prof Inezil foi fundamentalmente um estudioso que percebeu a Educação Física a partir de uma ótica diferenciada, a partir das fortes referências humanistas que possuía. Na verdade, Marinho parece não compreender o desenvolvimento de uma Educação Física que não fosse fundada em uma matriz filosófica clara. Para ele, mesmo as questões ligadas a didática/pedagogia tinham uma denotada raiz filosófica.

Os Clássicos e a Educação Física é outra obra de grande valor, onde os pensamentos de Platão, Aristóteles, Thomas Morus, Rousseau e outros, são analisados nos aspectos relacionados à Educação Física. Prof. Cantarino resume: As obras de Inezil Penna Marinho, publicadas em forma de livros e folhetos, referentes à Educação Física e aos Desportos, são inúmeras; seus temas versam sobre Administração, Legislação, Filosofia, História, Metodologia, Pedagogia, Didática, Psicologia e Sociologia. Os periódicos especializados guardam, em seu bojo, dezenas ou até mesmo centenas de seus trabalhos. O número pouco importa, mas o conteúdo de seus trabalhos é incalculável. Foram quase cinco décadas produzindo intelectualmente pela Educação Física e os Desportos no Brasil.