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Com adaptações, crossfit atrai idosos com mais de 70 anos no RJ 20/09/2018

Duas horas na academia, cinco vezes por semana. Essa é a rotina de Zilda Maria Plastino, de 75 anos, todas as manhãs. Sorridente e falante – sem dispensar o batom vermelho nos lábios –, a aposentada chama atenção não só pela disposição às 8h, mas também pela atividade que escolheu para fazer parte da sua vida: o crossfit.

A atividade, considerada por muitos difícil e de alta intensidade, tem sido oferecida para pessoas de terceira idade em várias academias do Rio.

"Foi um dos melhores exercícios que já fiz até hoje. O pessoal fica dizendo piadinha: ‘Ah, eu sou velha, não vou fazer’. Eu nem ligo. Tenho uma qualidade de vida muito boa", afirma.

Baiana de Salvador, Zilda já praticou outras atividades físicas ao longo da vida. Acompanhada pelos professores de uma academia na Zona Sul do Rio, a aposentada entrou no crossfit há dois anos e meio.

“A única coisa que eu nunca fiz foi pular no caixote, mas eu falo para vocês: com 80 anos eu pulo. Os professores acham que eu não devo fazer. Um dia eu quase que fui, eu já estava cá em cima, mas aí eu freei. Em lugar mais baixo eu pulo", disse Zilda.

Apesar do bom condicionamento físico, Zilda afirma que faz tudo dentro do seu limite. "Pulei corda e vi que a minha frequência subiu um pouquinho. Dei uma paradinha, voltei e pronto", disse ela.


Para o professor de Educação Física e coach de crossfit Carlos Henrique Primo [CREF 044623-G/RJ], Zilda é uma inspiração para a turma.

"A disposição dela é incrível. Ela fica de cabeça pra baixo na parede e faz exercícios que muitos jovens de 18 anos nem pensam em fazer. Eu não falo nem que ela é uma senhora. Ela é uma pessoa ativa. Ela faz a preparação física dela aqui pra viver muito saudável, e é isso o que a gente quer”, destacou o professor.

Segundo o professor Carlos Henrique Primo, o crossfit pode ser adaptado para qualquer pessoa, independentemente da idade. Para ele, cabe ao professor que está ministrando a aula identificar a dificuldade de cada aluno.

"Todos os exercícios do crossfit são adaptáveis. O que o crossfit quer é que o aluno se supere, que ele supere os seus limites. O ritmo e a intensidade, quem está fazendo a atividade é que vai ditar. Conforme eu for treinando, eu vou ganhando condicionamento físico", explica.

"A gente tem bastante atenção justamente para o aluno não se machucar. A gente trabalha com prevenção. A gente quer que você tenha uma vida saudável, sem se machucar e levando os exercícios do crossfit para a sua vida diária", disse o professor Carlos Henrique Primo.

Crossfit como reabilitação
O caso de Edson Caetano de Souza, de 70 anos, é um pouco diferente do de Zilda. O aposentado tem próteses no joelho e no quadril e começou fazendo aulas individuais com um personal que adapta os exercícios de crossfit para ele.

Edson operou o quadril em junho de 2017 e, em maio deste ano, começou a fazer o crossfit. Em poucos meses, emagreceu 7kg. Para ele, a rotina desses exercícios trouxe vários benefícios para a saúde física e mental, proporcionando uma qualidade de vida melhor.

“Muda tudo. Você come melhor, dorme melhor, faz algumas coisas que você não conseguia fazer e tinha medo. Quando você opera, fica com receio. 'Será que posso fazer isso ou aquilo?'. Você vai pegando confiança em tudo o que você faz. É por isso que eu digo: eu não vou parar. Enquanto eu puder, vou fazendo”, disse Edson.

O professor de Educação Física Juan Cavina destaca que as adaptações dos exercícios são importantes para o dia a dia de quem já está na terceira idade.

"Para mim, o principal foco é ele conseguir fazer o dia a dia dele ser bom. Poder sentar em um sofá e levantar sem se apoiar, sem sentir dor. É propor isso a ele e mostrar que dá resultado que vai traze rum dia a dia melhor”, disse Juan.

"As pessoas ainda têm um pouco de preconceito com a atividade porque acham que o crossfit lesiona, mas não é o caso. Você tem que buscar um profissional que saiba adaptar ao seu caso. Se a pessoa quiser ser inserida numa aula, pode ser inserida, contanto que o professor coloque ela dentro do nível dela”, explicou o professor.

Médico recomenda cautela
De acordo com o médico geriatra e professor da Universidade de São Paulo (USP) Alexandre Busse, não existe contraindicação de crossfit para idosos, mas é necessário ter muita atenção e cuidado com os tipos de exercícios executados.

“Eu orientaria que fosse feito de forma progressiva. Se for uma pessoa sedentária, tem que começar com exercícios leves, suaves, passando pra moderados pra depois chegar a um exercícios mais intenso”, disse ele.

Para o geriatra, qualquer idoso que queira começar uma atividade de alta intensidade, como o crossfit, precisa passar por uma avaliação médica.

“Tem que saber qual o risco de infarto ou derrame do idoso, queda, problemas articulares. Dependendo da avaliação médica, são solicitados ou não os exercícios radiológicos”, destacou o médico.

No caso de idosos que já tenham o hábito de praticar atividade física, Busse afirma que a restrição da prática de certos exercícios acaba sendo menor. Entretanto, é sempre bom que o idoso seja supervisionado por um profissional experiente em trabalhar com pessoas da terceira idade.

“Atividade física é importante, e vários tipos devem ser estimulados. Vai variar entre as pessoas, conforme seu passado escolher o que fazer. Não é por ser idoso que tem que fazer só hidroginástica e caminhada. Nunca é tarde e tarde pra começar a fazer exercício”, destacou o geriatra.


Fonte: G1