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Denúncias de assédio no esporte reproduzem movimentos da sociedade 13/06/2018

Há quase dois anos, o técnico de ginástica artística da seleção brasileira, Fernando de Carvalho Lopes, foi desligado após uma denúncia de abuso sexual por parte dos pais de um menino menor de idade, treinado por ele, num clube de São Paulo. Após a primeira, mais denúncias vieram. Ao todo, 40 afirmaram ser vítimas de abusos e 10 levaram o caso à Justiça. O Ministério Público está investigando. O ex-técnico negou as acusações. Cristiano Barreira, diretor da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto (EEFERP) da USP, atual presidente da Associação Brasileira de Psicologia do Esporte, e Kátia Rubio [CREF 029084-G/SP], coordenadora do Grupo de Estudos Olímpicos e professora da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, debateram o assédio no esporte.

Segundo Cristiano, abuso nessa área não é novidade. Para ele, é lamentável tratar desse tema, mas é também uma oportunidade importante de lidar mais abertamente com algo que é comum. Existe uma conivência e um silêncio sobre esse abuso, que, além de sexual, é moral. A professora Kátia ressalta que esse tipo de denúncia não é incomum. Segundo a especialista, o esporte segue de perto os movimentos da sociedade. Nunca se teve tanta atenção ao assédio moral e sexual como se tem hoje. Os atletas sempre falaram, mas essa fala não reverberava.

Ela explica que a ginástica ganha visibilidade porque os atletas começam sua carreira esportiva muito precocemente. Eles vão para centros de treinamento muito jovens e vulneráveis, e o que está em risco é a chance de realizar um sonho. Em nome da realização desse sonho, o atleta se submete a violências como essas, sem se dar conta de que ele tem voz e poder, só precisa exercê-los.

Os professores destacam a delicadeza da relação de poder estabelecida, em que o sujeito que está sob a condição de assédio deixa de perceber as fronteiras entre a possibilidade de se posicionar e a condição de subordinação à autoridade do técnico. Além da dificuldade em identificar o assédio físico, a questão de ordem psíquica pode ser ainda mais difícil para o atleta notar.

Katia Rubio comenta a naturalização do assédio no esporte, algo que está mudando agora, com os atletas tomando mais consciência dos seus direitos. Para Cristiano Barreira, essa situação de denúncias coletivas vai abrir espaços para se discutir o tema. Um ponto de partida, enquanto isso não se faz de maneira deliberada, é a possibilidade de se consultar os psicólogos do esporte, que, apesar de sua importância, não são obrigatórios nos centros de treinamento.


Fonte: Jornal da USP